O Estado angolano prevê privatizar,
até ao final de 1996, cerca de cem empresas, de acordo com o
Programa Indicativo 1995/96 fornecido, em Luanda, pelo
Gabinete de Redimensionamento Empresarial (GARE).
O processo compreende a privatização
total ou parcial, ou ainda a reestruturação de empresas e
sociedades dos ramos da pesca, agricultura, indústria
ligeira e pesada, comércio, café, transportes, geologia e
minas, petróleos, construção civil e bancos. À frente deste
programa, já aplicado a onze empresas fundamentalmente da
indústria pesqueira, está o GARE, um organismo criado há
cinco anos.
O avanço para as privatizações
correspondeu à vontade do governo angolano em reestruturar a
sua economia, dando-lhe maior eficiência e competitividade.
Este ponto tem sido um dos temas fulcrais nas negociações
com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
O FMI tem alertado o governo para a
necessidade de aplicar políticas económicas coerentes,
nomeadamente a implementação de uma política cambial
realista e da diminuição do défice público, no sentido da
estabilização económica.
Só a aplicação correcta de tais medidas
permitirá a aprovação de um pedido de Angola para uso de
recursos do mecanismo ESAF (Enhanced Strutural Adjusment
Facility) em apoio a um Programa de Ajustamento Estrutural.
Foi o antigo Programa de Saneamento
Económico e Financeiro (SEF) quem lançou as bases para a
privatização. Os primeiros passos foram dados em 1988, com a
aprovação das leis do investimento estrangeiro, das
actividades económicas e das empresas.
A lei de investimentos estrangeiros,
revista e actualizada em 1994, advoga que o «governo deve
promover e incentivar o investimento estrangeiro que se
coadune com a prossecução do desenvolvimento económico e
social do país e do bem-estar geral da população».
Acrescenta que «os investimentos não
deverão contrariar as estratégias de desenvolvimento
económico e social definidas pelos competentes órgãos de
soberania, as orientações estratégias e os objectivos
estabelecidos nos programas de políticas económicas e a
legislação em vigor».
Ao abrigo da lei 15/94 «os investimentos
estrangeiros poderão ser feitos por transferência de fundos
do estrangeiro, aplicação de disponibilidades em contas
bancárias, em moeda externa, constituídas em Angola por não
residentes, importação de equipamentos, acessórios e
materiais e incorporação de créditos e outras
disponibilidades do investidor estrangeiro, susceptíveis de
serem transferidos para o exterior nos termos da legislação
cambial, incorporação de tecnologias».
Alterada em Agosto de 1994, a lei das
privatizações veio dar novo impulso ao processo. O objectivo
fundamental das privatizações tem em consideração o aumento
da eficiência, da produtividade e da competitividade da
economia das empresas, a redução do peso do Estado, o
desenvolvimento do sector privado, o fomento empresarial e
possibilitar a participação de cidadãos angolanos na
titularidade de capital social das empresas.
No decurso dos últimos 20 anos, quase
todos os sectores da economia ( à excepção do petróleo),
conheceram uma séria retracção em termos das suas
capacidades de produção e do valor acrescentado,
particularmente após o reacender da guerra, em 1992.
A exploração de diamantes - a segunda
fonte divisas depois do petróleo - registou uma baixa
significativa da produção oficial, com 46 mil quilates, em
1993, contra 2,4 milhões, em 1973, devido ao abandono das
empresas mineiras dos centros de exploração, por causa do
perigo da guerra e das minas. As indústrias manufactureiras
foram as mais prejudicadas devido ao desaparecimento das
fontes nacionais de matérias-primas, aos constrangimentos
macroeconómicos e à destruição física de instalações nos
centros indústrias do interior do país, como Huambo e
Malanje.
A revitalização da economia, num país de
fortes carências a todos os níveis, obrigou a reorganização
do tecido produtivo e, neste sentido, a privatização de
inúmeras empresas estatais é um factor determinante.
O actual programa em curso compreende a
privatização de 11 empresas de pesca, 16 do sector do
comércio, 17 da construção civil, quatro do ramo do café, 12
dos transportes, 14 da indústria, 10 da agricultura, três do
sector mineiro e quatro de abastecimento de água e
electricidade. As privatizações atingiram, sobretudo, as
empresas de pesca, baseadas nas províncias de Benguela,
Namibe, as mais produtivas do ramo.
Em todo este processo, um especial
destaque vai para a privatização parcial de dois bancos, o
Banco do Comércio e Indústria (BCI) e o Banco de Poupança e
Crédito (BPC). O BCI é o exemplo mais bem sucedido de
criação de um banco comercial completamente estatal. O seu
capital social é detido pelo Banco Nacional de Angola (BNA),
em representação do Estado como accionista maioritário, e
pelas empresas estatais Sonangol, Angonave (linhas
marítimas), Porto de Luanda, TCUL (Transportes Públicos de
Luanda) e a cervejeira Nocal.
Há muito que se espera pelo arranque do
processo de privatização deste banco, em que estão
interessadas algumas instituições financeiras de Portugal e
de França.
Já o BCP, um banco virado para a poupança
das populações, herdou a sua existência ao período antes da
independência e é, neste momento, o que detém a maior rede
de balcões no país.
A Roremina e a Minaquartzo, no sector
mineiro, a Cafangol e a Procafé, do ramo cafeícola, a
terceira fonte de receitas do país, estão abertas à
privatização.
O Programa Indicativo para 95/96 prevê a
restruturação e privatização de 93 empresas, sendo 79
privatizações totais ou parciais e 14 processos de
estruturação.